quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O aspirante novo e o praça antigo

Compartilhar
Por CN1
* Escrito pelo Tenente Danilo Ferreira da PMBA





Uma das passagens emblemáticas do filme Tropa de Elite, clássico do cinema nacional que lançou as questões da segurança pública brasileira para discussão pelo público amplo, é a chegada dos aspirantes recém-formados Matias e Neto nas suas unidades, com todas as precariedades, vícios e desmandos presentes na rotina dos batalhões “convencionais”. A caricatura feita pelo filme não é a toa: de fato, ao sair das academias de polícia militar, os aspirantes sofrem o que podemos chamar de “choque de realidade”, uma espécie de anulação das doutrinas, conhecimentos e teorias adquiridas durante os anos na escola.

Uma das figuras centrais do novo contexto é o policial antigo, com certa experiência na atividade policial, certamente mais vivido profissionalmente que o aspirante, mesmo lhe sendo subordinado hierarquicamente. O “praça antigo” é aquele que conhece os becos e vielas, sabe quem são os responsáveis pelas desordens e os aliados em potencial (informantes, colaboradores), além de entenderem toda a dinâmica política que influencia a prática do policiamento na localidade em que atuam. Diante do perfil de competências e habilidades do “antigão”, impõe-se uma espécie de duelo entre ele e o aspirante recém-chegado, também com habilidades e competências próprias, absorvidas na academia.


De um lado, a vaidade daquele que possui anos de atuação cotidiana, de outro, a empáfia do conhecimento técnico aliado à superioridade hierárquica, uma combinação que precisa ser gerenciada pelas partes, ou as incompreensões podem gerar conflitos constrangedores e até trágicos. Primeiramente, é preciso reconhecer que a experiência policial das ruas não exclui os conhecimentos técnicos e doutrinários – ao contrário, trata-se de um casamento necessário para que haja excelência no serviço policial.

Um policial que conhece os locais vulneráveis, e não sabe se comportar tecnicamente, corre risco semelhante daquele que, embora tome as precauções técnicas necessárias, não sabe se situar na área em que atua. Fundir essas competências é fundamental, apesar dos desafios, que podem ser reduzidos a uma palavra: humildade.

Abrir mão da condição de senhor inquestionável da prática policial é o primeiro passo para aprender com os demais, seja o policial experiente (que geralmente possui defasagem teórica), seja o policial doutrinado recém-formado (que geralmente teve pouco contato com a dinâmica das ruas). Reconhecer no outro alguém que é simultaneamente professor e aluno é necessário, deixando de lado quaisquer vaidades e sentimento de autosuficiência  Esta é uma questão de sobrevivência (pessoal e institucional).

*Danillo Ferreira é Tenente da PM-BA, graduando em Filosofia pela UEFS-BA, e acredita na construção duma polícia cada vez mais imbuída de valores democráticos e humanitários, utilizando o conhecimento e a educação como alicerces destes objetivos. É associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.


Compartilhar

Author: verified_user

0 comentários: