quarta-feira, 9 de julho de 2014

Jabor: tragédia que viria na Copa ficou para depois

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Quarta-Feira, 09 de julho de 2014

Brasil 247 - Dos colunistas da imprensa familiar brasileira, ninguém conseguiu expressar com tanta clareza o pensamento “vira-lata” quanto Arnaldo Jabor. Foi ele quem, antes da Copa, publicou que o Brasil estaria prestes a sofrer um vexame internacional naquela que seria a “Copa do Medo” (relembre aqui).
Agora, num novo artigo, chamado “Gramados verdes, céus azuis”, ele diz estar sendo feliz nos últimos dias, mas faz uma ressalva. A alegria tem data para acabar. “Esta Copa de 2014 nos trouxe de volta um sentimento semelhante – temos alguma causa em comum, um desejo de vitória, um desejo de avanço, uma alegria que não sentíamos havia muito tempo. Por algumas semanas perdemos a sensação de tudo ser fragmentário, inatingível, e um país possível surgiu a nossa frente. Alguém escreveu por aí que, se dedicássemos toda essa energia para mudar o Brasil politicamente, seria um “chuá” ou um “banho”, como se dizia em futebol”, diz ele.
Mas Jabor faz um alerta. “Daqui a uma semana, voltará o sentimento de excesso, de insolubilidade para os problemas do mundo, estaremos de novo em trânsito como carros engarrafados, dominados por celulares, por circuitos sem pausa, com nossa identidade cada vez mais programada. Depois da sensação de passado, estaremos sem presente. Voltará o suspense diante do destino político, principalmente com as eleições. Estamos no intervalo. Que nos espera depois do jogo contra a Alemanha? Que nos espera em Brasília?”, questiona.
Como a tragédia prevista para a Copa não aconteceu, ele apenas adiou seu mau agouro para o País. “É mais ou menos isso que tenho sentido nesta Copa, que parece um flashback de felicidade. Como naquela visão artística de Zizinho, tenho sido bem feliz nas últimas semanas. Até que a depressão dos tempos brasileiros volte a se instalar.”
Pouco antes do Mundial, Jabor foi peremptório sobre a incapacidade brasileira de realizar um evento como a Copa do Mundo. Eis o que ele escreveu:
“Somos hoje uma nação de humilhados e ofendidos, debaixo da chuva de mentiras políticas, violência e crimes sem punição. Descobrimos que o País é dominado por ladrões de galinha, por batedores de carteira e traficantes. E mais grave: a solidariedade natural, quase ‘instintiva’, das pessoas está acabando. Já há uma grande violência do povo contra si mesmo. Garotos decapitam outros numa prisão, ônibus são queimados por nada, meninas em fogo, presos massacrados, crianças assassinadas por pais e mães, uma revolta sem rumo, um rancor geral contra tudo. Repito: estamos vivendo uma mutação histórica.
          O mais claro sinal de que vivemos uma mutação histórica é esta Copa do Medo. Há o suspense de saber se haverá um vexame internacional que já nos ameaça. Será péssimo para tudo, para economia, transações políticas, se ficar visível com clareza sinistra nossa incompetência endêmica, secular. Nunca pensei em ver isso. O amor pelo futebol parecia-me indestrutível. O governo pensava assim também, com o luxo dos gastos para o grande circo. E as placas nas ruas se sucedem: “Abaixo a Copa!”. “Queremos uma vida padrão Fifa!”
Como vão jogar nossos craques? Com que cabeça? Será possível ganharmos com este baixo astral, com a gritaria de manifestantes invadindo os estádios? Haverá espírito esportivo que apague essa tristeza?
Antes, nas copas do mundo, éramos a pátria de chuteiras. Hoje, somos chuteiras sem pátria.”
Os vira-latas perderam a aposta. E o maior derrotado foi ele mesmo, Arnaldo Jabor.
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